O Eldorado do Século XXI
É
importante garantir uma presença significativa da África no mundo hodierno. O
desafio da inovação não pode ser enfrentado sem grandes investimentos
intelectuais. Será uma casualidade o facto de o Banco Mundial considerar um luxo
o ensino superior em África? Os africanos que não se enganem: enquanto os seus
governantes reprimem os jovens e os condenam a encontrar expedientes para
sobreviverem no dia-a-dia, as grandes multinacionais afadigam-se em encontrar a
maneira mais fácil de deitar a mão ao ouro, aos diamantes, ao cobre, ao
alumínio e ao petróleo do continente. Sabem que a África é, agora mais que
nunca, o eldorado do século XXI. As televisões não o dizem.
Mantêm
distraída a opinião pública ocidental com a sida, a fome, as guerras étnicas,
as secas e a corrupção, Mas os senhores do norte movem-se, irresistivelmente,
atraídos pelo eldorado africano. A globalização impõe esta mobilidade
estrutural, que é uma dimensão da ordem neoliberal, ao mesmo tempo que a
opinião ocidental se apresta a controlar a mobilidade do sul e a rechaçar os
inavsores. Por outro lado, se o futuro da humanidade pertence às
"Sociedades e culturas mestiças", a África não tem nada a mendigar
aos outros povos. Da memória da sua cultura poderá, talves, tirar algo para
oferecer a um mundo em que o mercado todo poderoso subjaga sociedades inteiras
com a ditadura do imediato e do instantâneo. É este o espectáculo de vazio que
o novo capitalismo nos oferece. Se aspirar a renascer, a África não pode
deixar-se seduzir por esta civilização incapaz de satisfazer as aspirações do
ser humano. Numa altura em que o o centro de gravidade do mundo se desloca do
Norte para o Sul, particularmente para a África, devido ao seu crescimento
demográfico e ao seu potencial econômico, perfila-se nas suas enormes dimensões
o principal desafio: reconsiderar a relação entre o social e o econômico, entre
o mercado e a cultura.
Este
é um campo de investigação privilegiado para os intelectuais africanos, que têm
de mobilizar as suas inteligências se quiserem evitar que os seus povos tenham
de sentar-se segundo a estupenda expressão de Ki-Zerbo - "na esteira
alheia". No centro da confontração entre a África e a globalização
encontramos a pretenção de o Ocidente querer impor as suas crenças como se elas
fossem universais. Para escapar ao vazio, que se tornou insupostável mesmo para
o Ocidente, precisamos de redescobrir a África, continente que encerra uma
imensa reserva de sentimentos e de recursos: é este o capital que é preciso
valorizar para que finalmente germine a esperança no coração dos
"condenados da terra" e raiem novas alvoradas em África. Pesem embora
todas as aparências, a África não está fechada. Nasceu uma tradição inventiva.
Fracassado o sonho de emprego por toda vida, que por tanto tempo seduziu as
gerações da independência, os jovens e as mulheres inventam novas actividades.
São estas invenções dos "pequenos" que alimentam a esperança. A
África renasce para lá dos esterótipos gastos. Com obstinação.
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